terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Como um fruto que paira...


                        
    Um fruto, se for amor, pode ser cegueira ou vinho  e doer amável ou brutalmente... 


....como qualquer coisa cristalizada na boca, emudece na língua; pressente-se no ar como um fruto que paira e que mastigo sem que me reconheça emocionada na sua saliva doce. Porque não te sinto, se és feito de tendões e músculos e vertebralmente constituído, como eu?  Porque pairas na emergência perplexa do meu movimento de cria, porque não vens em forte odor corpóreo? Inutilmente vens como poeira espessa ao meu instante de tendões e músculos e sangue fluido nas veias. Testa, nariz, Fevereiro que assenta em ti como de novo o luar, o meio do meu coração que se dissolve como chuva temporã na janela imaginária dos teus quadris (...)


Texto: Maria Dulce Guerreiro
in "Assombrosamente, os Bichos" / Colecção de textos poéticos distinguidos na I Edição do Prémio de Poesia Manuel Alegre

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