Um fruto, se for amor, pode ser cegueira ou vinho e doer amável ou brutalmente...
....como qualquer coisa cristalizada na boca, emudece
na língua; pressente-se no ar como um fruto que paira e que mastigo sem que me
reconheça emocionada na sua saliva doce. Porque não te sinto, se és feito de
tendões e músculos e vertebralmente constituído, como eu? Porque pairas na emergência perplexa do meu
movimento de cria, porque não vens em forte odor corpóreo? Inutilmente vens
como poeira espessa ao meu instante de tendões e músculos e sangue fluido nas
veias. Testa, nariz, Fevereiro que assenta em ti como de novo o luar, o meio do
meu coração que se dissolve como chuva temporã na janela imaginária dos teus
quadris (...)
Texto: Maria Dulce Guerreiro
in "Assombrosamente, os Bichos" / Colecção de textos poéticos distinguidos na I Edição do Prémio de Poesia Manuel Alegre
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