segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

“(…) ressuscitar, se faz história; criar, se faz poesia.”

“(…) ressuscitar, se faz história; criar, se faz poesia.” Victor Hugo




Parar, depois de muito caminhar, deixar de escutar a chicotada dos passos que sujeitam a vida à enfermidade do ruído. Não sabemos, por exemplo, explicar o medo de sermos felizes quando uma  alegria nos bate no peito para nos amar inteiramente. Habitar o espaço é necessário, há quem chegue de mansinho ou repentino e se comporte  como qualquer coisa no   limite de um espelho que engana  o tempo  nitidamente embaciado   pelo orvalho do caminhante. querendo parar, inventa mistérios que não existem e  com propriedade  os  mistérios acontecem ao seu desconhecimento como a coisa mais sólida do pensamento.

É necessário parar, ainda com a cabeça sobre os ombros, anjos  sem o peso do mundo exposto à intempérie, o globo  vem talvez desabar no pescoço para chegar ao mais intimo recesso da nuca,  a habitação do homem nunca parado. o homem que persegue a carne  para sobreviver, que caça a sua presa e lhe bebe o  sangue.  Um  lírio que não seja capaz de se mover senão no sopro do vento não é decerto um parasita da ondulação do trigo; escutar uma paisagem é prosseguir em circulo com passos aéreos.

Raros são os passos ao acaso ou com o propósito de perseguir o vento  pelos bosques. Esquecer os passos na determinação do caminho é o que mais me devolve ao que parece a ilusão dos limites. Uma ilusão, quando persiste, é grito e tem forma. É realidade e transcende a abstração da ilusão sem forma. Toca-se, ou trinca-se como   maçã  na extravagância da imaginação.  O desejo do que pode ser tocado mas não beijado com paixão pode mudar o destino dum homem, ser a criação de um poema em qualquer lugar junto da pele.

Ninguém sabe exactamente que horas são nos passos que se atravessam nos astros.  ninguém pode dizer, naqueles passos são cinco horas da tarde, hora do chá , tempo  do pão castanho que aguarda o movimento da  língua desde a sementeira do centeio.

Sinto o silêncio como hortelã mastigada no frio. Se o amor me assusta e sinto medo quando me sinto feliz, um  beijo que me peça paz, e o medo cai .´

© M.Dulce Guerreiro

in "Hortelã Mastigada no Frio"

Sem comentários:

Enviar um comentário